Elis, mulher maravilhosa apesar e por todos seus defeitos e qualidades.
sábado, 28 de janeiro de 2012
Os Grandes Festivais de MPB
Os Grandes Festivais!
Quanta história cabe em tantas músicas...! Falando francamente só lembro
mesmo de um, que creio ter sido o último, o que revelou talentos como
Jane Duboc, Osvaldo Montenegro, Sandra Sá (antes da numerologia, muitos
tinham nomes diferentes), Raimundo Sodré ( com duplo sentido em "A
Massa") e outros que morreram (Jessé) ou simplesmente sumiram depois de
apagadas as luzes da ribalta.
Em
comum, os grandes festivais tem o envolvimento do público, formando -
no seu decorrer - facções apaixonadas e passionais na defesa de suas
prediletas. "Ponteio", vencedora do III FMPB no emblemático Outubro de
1967 era uma unanimidade. Delícia ver a participação ativa do público
presente, que na verdade atuava como verdadeira "segunda voz", que na
final daquele ano, emocionou tanto Edu Lobo que é visível seu engolir em
seco a emoção ao início da música. Observem que o nervosismo era
tamanho que o Quarteto Novo inicia antes de Edu estar preparado, param a
um pedido dele e reiniciam para ingressarem na história.
Um
ano antes, em 1966, aconteceu um fato digno de nota, digno de um grande
festival. Transcrevo a seguir um texto postado no site MPB -
Cifratinga, para que tenham uma remota idéia do clima...
"Eu havia aconselhado o Vandré a olhar com carinho para a música
sertaneja, e creio que devo tê-lo influenciado para que compusesse Disparada.
Difícil foi convencê-lo a não cantá-la. O Vandré, embora tivesse uma
boa presença no palco, não era muito conhecido e ainda não tinha cancha
suficiente para encarar, em um espetáculo sempre cheio de tensões, uma
música que exigia grande força interpretativa."
O Vandré foi conferir. Fez alguns ensaios e ficou convencido. Com o Trio Marayá e o Trio Novo, formado por Heraldo do Monte na viola caipira, Théo de Barros ao vilão e Aírto Moreira na percussão, montaram um número muito forte. Uma queixada de burro, habilmente manipulada na primeira eliminatória por Aírto e na final por Manini, deu o toque final. O Chico se apoiou na tímida, porém cheia de joelhos e charme, Nara Leão. Os dois se completavam e a inclusão de uma bandinha de verdade resultou em outro número fortíssimo, apesar da timidez evidente que ambos demonstravam no palco.
O Vandré foi conferir. Fez alguns ensaios e ficou convencido. Com o Trio Marayá e o Trio Novo, formado por Heraldo do Monte na viola caipira, Théo de Barros ao vilão e Aírto Moreira na percussão, montaram um número muito forte. Uma queixada de burro, habilmente manipulada na primeira eliminatória por Aírto e na final por Manini, deu o toque final. O Chico se apoiou na tímida, porém cheia de joelhos e charme, Nara Leão. Os dois se completavam e a inclusão de uma bandinha de verdade resultou em outro número fortíssimo, apesar da timidez evidente que ambos demonstravam no palco.
As duas foram classificadas para a final. Estava na cara que uma delas seria a vencedora do festival. Os discos não paravam de tocar em todas as rádios, e a disputa entre o Chico e o Vandré virou o assunto do país. Primeiras páginas de todos os jornais. A brincadeira era: Você é dos “bandidos” ou dos “disparatados”?
Era incrível que um evento que acontecia em um pequeno auditório, com pouco mais de quinhentos lugares, tivesse adquirido aquela dimensão. Na noite da finalíssima, os teatros da cidade de São Paulo suspenderam seus espetáculos por falta de público, os cinemas ficaram às moscas e as ruas, vazias. Cheguei a receber uma comissão de produtores teatrais pedindo que mudasse o dia das apresentações do festival.
A apresentação das músicas foi inesquecível. A platéia dividiu-se. De um lado, a turma universitária que torcia apaixonadamente pelo seu representante, com o ingênuo e poético desfile dos personagens de uma cidade que parava para ver a banda passar tocando coisas de amor. Uma marchinha singela e de poucos atrativos musicais. Do outro, os que respondiam ao apelo engajado do cavaleiro de laço firme e braço forte de um reino que não tinha rei. Foi uma apresentação emocionante e consagradora, tanto para o Chico e sua companheira Nara, como para o Vandré, via Jair Rodrigues.
Era incrível que um evento que acontecia em um pequeno auditório, com pouco mais de quinhentos lugares, tivesse adquirido aquela dimensão. Na noite da finalíssima, os teatros da cidade de São Paulo suspenderam seus espetáculos por falta de público, os cinemas ficaram às moscas e as ruas, vazias. Cheguei a receber uma comissão de produtores teatrais pedindo que mudasse o dia das apresentações do festival.
A apresentação das músicas foi inesquecível. A platéia dividiu-se. De um lado, a turma universitária que torcia apaixonadamente pelo seu representante, com o ingênuo e poético desfile dos personagens de uma cidade que parava para ver a banda passar tocando coisas de amor. Uma marchinha singela e de poucos atrativos musicais. Do outro, os que respondiam ao apelo engajado do cavaleiro de laço firme e braço forte de um reino que não tinha rei. Foi uma apresentação emocionante e consagradora, tanto para o Chico e sua companheira Nara, como para o Vandré, via Jair Rodrigues.
O júri estava reunido e os boatos, rolando. Ganhou o Chico! Não, ganhou o Vandré! Era de fato uma decisão difícil. Em uma reunião prévia dos jurados naquela tarde, para criar critérios na tentativa de evitar que a disputa entre as duas terminasse beneficiando uma terceira, o que seria desastroso, a tendência parecia dar a vitória ao Chico. Ficou acertado que a decisão definitiva só aconteceria depois da apresentação das músicas, para que fosse levada em consideração a reação do público.

O Paulinho de Carvalho temia que destruíssem o teatro caso o resultado não fosse do agrado daquela gente que, emocionada, cantava as duas favoritas. Era impossível saber qual era a preferida. Outro papo rolou pelos bastidores: o Chico não aceitaria a vitória. Eram boatos desencontrados e o júri, embalado por um dos mais emocionantes espetáculos musicais até então apresentados pela televisão brasileira, recorde de audiência para programas musicais, votou pelo empate, recebido pela platéia do Teatro Record com aplausos delirantes. E com evidente alívio pelo Paulinho de Carvalho...".

O Paulinho de Carvalho temia que destruíssem o teatro caso o resultado não fosse do agrado daquela gente que, emocionada, cantava as duas favoritas. Era impossível saber qual era a preferida. Outro papo rolou pelos bastidores: o Chico não aceitaria a vitória. Eram boatos desencontrados e o júri, embalado por um dos mais emocionantes espetáculos musicais até então apresentados pela televisão brasileira, recorde de audiência para programas musicais, votou pelo empate, recebido pela platéia do Teatro Record com aplausos delirantes. E com evidente alívio pelo Paulinho de Carvalho...".
Fonte: Prepare seu Coração (A História dos Grandes Festivais) – Solano Ribeiro – Geração Editorial, 2002
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