segunda-feira, 12 de março de 2012

Um Novo Jardim

MANEIRA DE AMAR
O jardineiro conversava com as flores e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza.
Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na devida ocasião.

O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mando-o embora,depois de assinar a carteira de trabalho.

Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. "VOCÊ O TRATAVA MAL, AGORA ESTÁ ARREPENDIDO?" "NÃO, RESPONDEU, ESTOU TRISTE PORQUE AGORA NÃO POSSO TRATÁ-LO MAL. É A MINHA MANEIRA DE AMAR, ELE SABIA DISSO, E GOSTAVA".

(Drummond)

Mestre Vitalino


Em 1909, nasce Vitalino Pereira dos Santos, na pequena vila de Ribeira dos Santos, próximo a Caruaru, (PE). Criado em ambiente oleiro, cedo começa a modelar boizinhos, louças em miniatura e outros brinquedos, para serem vendidos na feira local. Dotado de forte senso estético, produz obras que, na maturidade, atraem a atenção de críticos e colecionadores de arte. Em 1947, por iniciativa do pintor Augusto Rodrigues, de quem torna-se amigo, tem algumas esculturas expostas no Rio de Janeiro, com sucesso. Esta exposição é hoje considerada um marco na história do interesse pela arte popular, não só por revelar ao grande público a obra de Vitalino, como também por chamar a atenção sobre a existência desse gênero de criação em diferentes regiões do país.

É reconhecido como Mestre por sua virtuose e pela liderança que exerceu entre os ceramistas do Alto do Moura. Entre 1960 e a data de sua morte, em 1963, viajou por todo o Brasil, participando de exposições e mostrando sua técnica. Apesar de ter se tornado famoso, faleceu aos 53 anos, muito pobre, vítima de doença contagiosa. Sua memória continuou a ser cultivada depois da morte, não só pelo público em geral como pela família e os amigos, muitos dos quais ajudou a formar. Seus filhos – Amaro, Manuel, Severino, Antônio (falecido) e Mariquinha – seguiram-no na profissão. Mestre Vitalino criou uma narrativa visual expressiva sobre a vida no campo e nas vilas do nordeste pernambucano. Realizou esculturas antológicas, como "o enterro na rede"; "cavalo marinho"; "casal no boi" e muitas outras, de poética irretocável.