terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Poucas Palavras




E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

Hilda Hilst

O Aranha Negra

Lev Yashin: o homem que revolucionou a posição de goleiro

 

Lev Yashin referência mundial para quem atua como goleiro de futebol, essa posição tão complicada do esporte. O russo, quem diria, iniciou sua carreira defendendo gols de hóquei no gelo na equipe da fábrica de ferramentas onde trabalhava, em Moscou, capital da União Soviética. Aos 14 anos, foi descoberto pelo Dínamo de Moscou, clube onde permaneceu durante seus 22 anos de carreira.
O russo mudou o conceito de que o goleiro deveria ficar parado debaixo das traves aguardando o arremate do atacante. Na década de 1950, o jogador deixou de se restringir à pequena área e passou a se portar virtualmente como um líbero, o que possibilitou cortar cruzamentos altos, defender bolas nos pés dos atacantes e bloquear os ângulos antes da finalização.

Recebeu a alcunha de Aranha Negra por causa do uniforme negro que sempre envergava debaixo das traves. Além disso, alguns dizem que o apelido também foi dado por conta de tamanha habilidade de Lev Yashin em realizar defesas extraordinárias. Tão extraordinárias que mais parecia ter oito braços, em vez de apenas dois como os meros mortais. Um jogador de estilo arrojado para a sua posição e frieza nos momentos de decisão.

Yashin costumava dizer que antes de partidas de grande importância, a receita de suas atuações mitológicas era, antes de entrar em campo, fumar um cigarro para acalmar os nervos e beber uma dose de vodka para tonificar os músculos. E, de acordo com os registros históricos, a receita deu muito certo, já detém números impressionantes em sua carreira: ao todo foram 812 jogos na carreira, sendo 326 pelo Dínamo de Moscou e 78 pela seleção da URSS; inacreditáveis 150 pênaltis defendidos e 270 partidas sem levar um único gol.

Pela seleção soviética participou de quatro Copas do Mundo (1958, 1962, 1966 e 1970). Na última, já com 40 anos, ficou no banco de reservas e não jogou. Mas ele foi o grande responsável pela conquista da melhor colocação da União Soviética na história: um quarto lugar em 1966. Quando se despediu da seleção nacional, foram necessários 12 anos para que o país conseguisse disputar novamente um Mundial. E Lev Yashin é até hoje o único goleiro a receber a Bola de Ouro, prestigiada premiação da France Football que elege o melhor jogador da Europa, em 1963.



Por sua contribuição ao esporte, o russo detém diversos títulos e homenagens. Em seu jogo de despedida, em 1971, a FIFA o presenteou com uma medalha de ouro especial. Em eleição realizada pela entidade máxima do futebol, Lev Yashin foi escolhido o melhor goleiro do século 20. Foi eleito, também, como o melhor jogador russo dos 50 anos da UEFA. E para se ter uma ideia da importância desse homem para a Rússia, o goleiro foi condecorado com a medalha de Lênin, maior tributo a um cidadão soviético por serviços prestados ao seu país. Apenas Yuri Gagarin (1º homem a ir para o espaço) e Vasily Zaitsev (herói da batalha de Stalingrado) receberam essa mesma honra.

Em frente ao estádio do Dínamo de Moscou, o maior da Rússia, há um monumento em sua homenagem e em seu túmulo uma escultura estilizada. Nada mais justo para um homem que em plena Guerra Fria, caracterizada pela corrida espacial, conseguiu provar, através de seus saltos para realizar defesas, que o homem também pode voar.

(Templo da Bola)