No início era a corda
Os passos vinham atrás
Porque pensar à frente não merecia cuidado.
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Carlos Gordon vivera até então como nascera: à sombra da lona do circo,
Entre os animais dos quais cuidava.
Sua mãe também nascera ali, pelas mãos de outro dono.
Um dia disseram à Carlos: Hoje o Domênico faltou, voce faz o número.
Carlos nunca subira numa corda, nem pensara nessa possibilidade,
Nem mesmo nos incontáveis dias em que observava, deslumbrado,
as performances dos que, como ele, já nasceram num ofício.
Se cair, melhor, diverte o público, bradou a voz do dono.
Quando chegou a noite, Carlos não tinha as mãos úmidas de sempre;
Entrou no picadeiro com a indiferença entre altiva e cordial
Planejada por Dandara,
Planejada por Dandara,
A engolidora de fogo, que às pressas lhe ensinara naquela tarde.
A voz do dono já havia anunciado que era estréia ao público, entorpecido.
Restava-lhe a coragem
E só
E só
Subiu.
E.J.
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